terça-feira, 26 de agosto de 2014

O crédito consignado e o superendividamento do consumidor idoso aposentado e pensionista


Elisabete Porto*

O superendividamento é o descontrole financeiro do devedor de boa-fé que não consegue pagar as dívidas sem sacrifício da própria sobrevivência. Entre as razões do seu surgimento está a ampla oferta de crédito sem a devida educação financeira. O crédito consignado entra neste palco como modalidade de empréstimo amplamente difundida entre os idosos – aposentados/pensionistas – e razão do endividamento dessa população.
A adesão em massa dos aposentados e pensionistas, sobretudo os de baixa renda e baixo grau de escolaridade, ao crédito consignado fez com que a carteira ganhasse rápida projeção entre os bancos, que passaram a investir massivamente na oferta e publicidade dirigida a esse público. Esses idosos têm se aventurado expressamente nesta modalidade de crédito e ocupam, atualmente, o segundo lugar no ranking dos contratantes. Sutilezas nesses contratos representam verdadeiras armadilhas para o endividamento: o serviço é cedido sem qualquer consulta prévia à saúde financeira do mutuário; dividido em intermináveis parcelas, mantendo a renda comprometida por vários anos; renovado automaticamente, fazendo com que o tomador perca o controle de sua quitação; e liberado por meios que facilitam a ocorrência de fraudes.
O consumidor idoso que se torna superendividado está quase sempre imbuído do desejo de satisfazer carências imediatas; atender a pedidos de familiares; ou ainda é mal orientado pelas consignatárias, persuadidos por vendedores abusivos. Contratam o empréstimo consignado e rapidamente são engolidos por um turbilhão de consequências por ele não imaginadas que, gradativamente, dificultam o pagamento de suas contas.
O processo de endividamento culminará na impossibilidade de quitação das dívidas, levando-o à aquisição de novos empréstimos para quitar os anteriores. Este moto-contínuo coloca-o numa situação periclitante, sobretudo quando não mais dispõe de margem consignável para realizar novos empréstimos, embora persista a necessidade de renda extra em razão das dívidas crescentes oriundas de parcelas cada vez mais altas.
Eis o cenário da falência financeira do idoso, ele que já não dispõe do auge de suas forças para se recuperar dos danos causados por este processo, vê afetados gravemente os mais variados aspectos da vida. A vulnerabilidade potencializada, que caracteriza esse consumidor, faz com que o endividamento crônico e excessivo a ele se apresente com feições ainda mais dramáticas.

*Elisabete Porto é advogada, Mestre em Ciências Jurídicas, membro das Comissões de Direito Previdenciário e Direito do Idoso da OAB/PB e membro do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP).

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Idoso tem dificuldade para contratar plano de saúde em São Paulo, diz Idec


13/08/2014 10h27 - Atualizado em 13/08/2014 15h28

Preços comprometem até 99% da renda e é preciso fazer avaliação prévia.
Foram pesquisadas 20 operadoras com maior número de usuários.

Do G1, em São Paulo
A média de preço dos planos mais baratos é de R$ 551,04. A dos mais caros é de R$ 1.447,36. E a média do valor de todos os planos consultados é de R$ 999,20
Idosos encontram dificuldades para contratar um plano de saúde individual na cidade de São Paulo, como altos preços, falta de oferta de planos e exigência de avaliação médica prévia antes da contratação do serviço, aponta pesquisa divulgada nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
De acordo com o Idec, entre as 20 operadoras com maior número de usuários em São Paulo, somente oito comercializam planos individuais/familiares para idosos.

Com relação ao preço, o Idec cotou o valor do plano mais barato e do plano mais caro de cada uma das seis operadoras consideradas (o Idec não conseguiu contato com 2 das 8 que oferecem o produto) para um usuário com idade de 75 anos.

Segundio a pesquisa, a média de preço dos planos mais baratos é de R$ 551,04. A dos planos mais caros é de R$ 1.447,36. E a média dos valores de todos os 12 planos consultados juntos é de R$ 999,20.
Segundo o Idec, média dos preços dos planos de saúde individuais/familiares mais baratos ofertados na cidade de São Paulo compromete cerca de 40% da renda mensal dos idosos. A média dos preços dos planos mais caros compromete 99%. A média dos valores globais compromete 70%.
Para o valor do compromentimento da renda, o Idec comparou os valores dos planos com a renda média de uma pessoa com mais de 60 anos no país, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2011. Segundo a Pnad, 72,4% dos idosos possui rendimento mensal de no máximo dois salários mínimos (R$ 1.448 em valores atuais).

Availação médica prévia
O estudo revele, ainda, que os idosos encontram barreiras como a falta de informação e a exigência de avaliação médica prévia para contratar um plano.
De acordo com a pesquisa, pelo menos cinco operadoras exigem que o idoso faça exames ou entrevista com um médico para contratar o plano - ou seja, o idoso interessado em adquirir um plano de saúde individual é submetido a um exame médico prévio ou ao que se chama de “entrevista qualificada”.
No entendimento do Idec, submeter o potencial consumidor a uma avaliação médica prévia como condicionante para a contratação do serviço é ilegal. “A contratação de um plano de saúde envolve riscos para os dois lados. O consumidor corre o risco de pagar e não precisar usá-lo, e a operadora corre o risco de vender um plano sem saber se o cliente vai ou não desenvolver uma doença”, argumenta o instituto, em nota. A exigência de avaliação médica prévia não é regulamentada pela ANS, diz o Idec.
Pesquisa
Para a pesquisa, foram escolhidas as 20 operadoras com maior número de usuários na cidade de São Paulo, diz o Idec, com base em dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em seguida, constatou-se quais ofereciam planos individuais. Depois, o Idec verificou como um plano de saúde é vendido para uma pessoa de 75 anos. Para isso, foram acionados os telefones publicados nos sites das empresas. Os critérios considerados foram: preço, exigência ou não de avaliação médica prévia, período de cobertura parcial temporária e carências. O Idec avaliou ainda a maneira como tais informações foram fornecidas (se espontaneamente ou não).
A ANS enviou uma nota nesta quarta-feira afirmando que ninguém pode ser impedido de ingressar em planos de saúde, nem de ter o acesso dificultado em razão da idade, condição de saúde ou deficiência do consumidor. "Caso a operadora esteja dificultando ou restringindo o atendimento de idosos, pessoas com doenças graves ou deficientes, ela estará desobedecendo ao Estatuto do Idoso, ao Código de Defesa do Consumidor, à Lei dos Planos de Saúde e à Súmula Normativa nº19/2011 da ANS. Nesses casos, a operadora poderá ser multada em R$ 50 mil por cada infração verificada", diz a ANS.
Posicionamento de federação do setor
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) disse, em nota, que não tem conhecimento sobre práticas restritivas e não aprova a conduta. "Os planos de saúde estão disponíveis para todos, independentemente de idade, portanto também para idosos. Além de o acesso à saúde ser um direito constitucional, a Lei dos Planos de Saúde proíbe as operadoras de exercerem qualquer outro tipo de discriminação em relação à idade. A lei permite apenas diferenciar mensalidades por faixas etárias, de forma a ajustar o plano segundo o perfil de utilização, e por doenças e lesões preexistentes, dentro dos princípios dos seguros. A entrevista qualificada é permitida e sua aplicação está prevista na Resolução Normativa nº 162/2007, da ANS", afirmou.
(Fonte: http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2014/08/idoso-tem-dificuldade-para-contratar-plano-de-saude-em-sao-paulo-diz-idec.html)